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O mal-estar no século XXI:

Uma cartografia das transformações históricas

nos modos de sofrer

Esta pesquisa busca explorar algumas transformações nas formas de sofrimento que se tornaram mais habituais na atualidade, partindo do fértil conceito de mal-estar, formulado por Sigmund Freud em seu texto publicado em 1930, O mal-estar na civilização. Agora, porém, já bem avançada a segunda década do século XXI, um olhar genealógico permite vislumbrar alguns deslocamentos históricos nesse arguto diagnóstico, que foi extremamente pregnante no seio da era moderna, tanto pela sua precisão teórica como pela terapêutica psicoanalítica cujo apogeu se expandiu ao longo do século XX.

 

A constatação de um conjunto de contradições nos levou a embarcar neste projeto, vislumbrando o embate entre algumas características dos modos de vida contemporâneos e as fontes daquele mal-estar tipicamente moderno. Vários deslocamentos podem ser mapeados: das paredes às redes, da solidão à conexão, do silêncio ao compartilhamento, da intimidade à visibilidade, da confissão ao testemunho, do dever ao desejo, do cidadão ao consumidor, da disciplina ao controle, do horizonte de normalização ao de otimização, da culpa à vergonha, do bem comum à autoestima, da repressão ao estímulo permanente que irradia em múltiplas direções.

 

Os mal-estares que proliferam na atualidade podem ser observados como sintomas dessas incongruências, ou então como frutos inéditos dessas novas configurações. Afinal, trata-se de tipos peculiares de angústia, que se intensificam de modo paradoxal numa sociedade supostamente voltada para o bem-estar, entendido como a busca do prazer individual e de uma felicidade decorrente da autorrealização. Por isso, esses sofrimentos bem atuais só podem se articular em torno a outras forças hoje vigentes, bastante distantes daquelas que marcaram a sangue e fogo a tumultuada subjetividade moderna.

 

Assim, lidamos agora com a sedução de uma conexão altamente demandante, que desconhece todo limite de tempo e espaço, enquanto os fluxos digitais não só permitem como também estimulam o mútuo monitoramento. Essa transparência acaba suscitando modos performáticos de viver, acionando a estética do espetáculo e a dinâmica do mercado, com a injunção ao sucesso sob os moldes exclusivos da lógica empresarial, da competitividade individual e da alta performance em todos os âmbitos. Nesse contexto, pronuncia-se a crise das instituições panópticas que articularam a vida moderna, da escola até a fábrica, o hospital, o quartel, a família e a prisão.

 

Tendo se flexibilizado a obediência tácita às normas e às hierarquias, bem como o respeito e o temor à autoridade internalizada no cerne da própria subjetividade, hoje afloram frustrações imprevistas. Numa sociedade que deixou para trás as rudes táticas disciplinares, emolduradas nos pacatos tabus da ética protestante e da famigerada hipocrisia da moral burguesa, o mal-estar assume formas impensadas. Essas frustrações já não parecem decorrer dos velhos limites associados à lei que tutelava os cidadãos modernos e lhes exigia o cumprimento de severos deveres; em vez disso (ou além disso), são outras as insatisfações que hoje proliferam. De modo perturbador, esses mal-estares derivam de algo que se assume como uma conquista com relação ao ideal normalizador da sociedade moderna: as infinitas possibilidades abertas aos consumidores contemporâneos.

Nesse panorama recentemente reconfigurado, no qual tem se horizontalizado a capacidade legítima de julgar e punir, qualquer um pode se tornar um potencial agressor, que deve ser denunciado por sua condição de preconceituoso, violento ou intolerante. De modo complementar a essa culpabilização do outro, tem se generalizado a auto-vitimização: todos podemos ser vítimas daqueles que obstaculizam o direito ao bem-estar, suscitando a prática cada vez mais habitual de testemunhar, compartilhar e reivindicar o próprio sofrimento com orgulho identitário.

Essa complexa sacudida nos valores, nas crenças e nas práticas que hoje se mobilizam, tem disparado certos mecanismos de poder que estão se afiançando na atual sociedade globalizada, redefinindo e nublando as fronteiras do possível e do pensável. Este projeto aposta na capacidade do pensamento e do diálogo para ampliar o território do que se pode imaginar e, portanto, viver, recorrendo à perspectiva genealógica para tentar fugir das armadilhas das "verdades" cristalizadas em cada momento histórico.

Este projeto é um desdobramento da tese de doutorado de Marianna Ferreira Jorge, desenvolvida no PPGCOM-UFF com bolsas da Capes e da Faperj, sob orientação de Paula Sibilia (UFF) e com coorientação de Paulo Vaz (UFRJ). 

Trata-se de uma iniciativa do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) da Universidade Federal Fluminense (UFF), em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade de Brasília (UnB), com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Entre outras atividades e produções, a proposta contempla:

1. A publicação de artigos em revistas qualificadas, consignando os resultados parciais e finais da pesquisa, escritos individualmente e/ou em parceria entre os membros do projeto.

 

2. A criação de um grupo de pesquisa específico, no intuito de consolidar uma rede de discussão e produção conjunta em torno ao tema, integrado por pesquisadores de diferentes áreas, com reuniões regulares no Rio de Janeiro e extraordinárias em outras cidades do país ou do exterior.

3. A realização de uma série de entrevistas filmadas com autores de diferentes áreas (Comunicação, Psicanálise, Filosofia, Artes, Educação, Ciências Sociais), que tenham pesquisado temas relacionados ao "mal-estar" ou aos modos de sofrer mais característicos da atualidade, sob diferentes perspectivas e abordagens.

4. A produção de um site na internet para divulgar as entrevistas completas, bem como o perfil de cada participante e o projeto de um modo geral, pensado como um canal para facilitar a comunicação com o público interessado.

5. A produção de uma coletânea, que plasmará o pensamento dos pesquisadores entrevistados (por meio da transcrição de entrevistas e/ou de artigos na íntegra), sempre com foco no problema estudado.

6. A partir dos resultados obtidos nas primeiras etapas do projeto, incluindo as entrevistas aos pesquisadores escolhidos, serão realizadas uma série de encontros e conversas com uma diversidade de sujeitos que se consideram “vítimas” das agressões irradiadas pelos mal-estares contemporâneos, com o intuito de incorporar esses depoimentos no material de pesquisa.

7. A produção de um livro, em co-autoria com os principais proponentes do projeto, apresentando os resultados finais da pesquisa. Essa obra, que será publicada tanto em português como em espanhol, irá integrar tanto o diálogo com os autores entrevistados como o material empírico coletado nas conversas com as "vítimas", bem como as fontes bibliográficas consultadas e trabalhadas ao longo da pesquisa.

8. A publicação de um canal na plataforma Youtube com os vídeos de todas entrevistas, tanto em suas versões completas como divididas por questões, divulgando o link do site do projeto.

9. A organização de um seminário internacional no Rio de Janeiro, além de outras edições em três cidades brasileiras (Brasília, São Paulo e Salvador) e uma em Buenos Aires,  Argentina, com a participação dos entrevistados e de outros convidados.

10. A produção de um filme documentário, a partir das entrevistas realizadas, que sintetizará os debates num formato destinado a um público mais amplo.

             EQUIPE

Coordenação 

Paula Sibilia (PPGCOM-UFF)

Marianna Ferreira Jorge (PPGCOM-UFF) 

Parcerias

Paulo Vaz (PPGCOM-UFRJ)

Cláudia Linhares Sanz (UnB)

 

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Idealização e realização:

Agências financiadoras:

Parceiros:

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